Comparando Meditação com Medicação no Tratamento da Ansiedade

Encontramos um artigo bastante interessante publicado no JAMA Psychiatry comparando o tratamento dos transtornos ansiosos com prescrição de Escitalopram versus Meditação.

Há décadas vêm sendo realizadas pesquisas mostrando a eficácia da meditação como tratamento complementar das mais variadas síndromes psiquiátricas, notadamente dos quadros de ansiedade.

Contudo, a maior parte destes estudos comparou a evolução dos transtornos mentais quando se associaram as práticas meditativas ao tratamento psiquiátrico habitual, seja medicamentoso e/ou psicoterapêutico.

Podemos admitir que acrescentar a Meditação ao arsenal terapêutico é positivo, tanto em termos de velocidade e intensidade de resposta quanto de prevenção de recaídas.

Mas será que a Meditação pode ser considerada um tratamento específico ou isolado para a ansiedade? E, em caso afirmativo, como a Meditação se compara com o tratamento psicofarmacológico?

São estas as perguntas que o grupo de pesquisadores buscou responder.

Trata-se de um estudo clínico randomizado com uma amostra de n=208 adultos diagnosticados com Transtornos de Ansiedade separados em 2 grupos, Meditação e Medicação, avaliados no início do estudo e após 8, 12 e 24 semanas.

Um deles recebeu treinamento em Meditação Mindfulness e o outro recebeu prescrição de Escitalopram (inibidor seletivo de recaptação da serotonina, disponível no Brasil sob as marcas Lexapro, Reconter, Exodus entre outros similares, além das várias marcas de formulações genéricas).

O treinamento em Meditação consistiu em 8 sessões semanais de uma técnica específica chamada “Mindfulness-Based Stress Reduction” (MBSR) – caso tenha interesse neste treinamento, sugiro verificar essa página da Escola de Medicina de Yale.



Efeitos colaterais

78,6% dos participantes do grupo do tratamento medicamentoso relataram ao menos 1 efeito colateral (sendo que 8% deles abandonaram o estudo por conta disso) x 15,4% do grupo da Meditação. Ainda que não tenha levado nenhum participante a abandonar o tratamento, a Meditação pode sim causar efeitos adversos, como qualquer tratamento disponível!

No caso, o efeito adverso foi a percepção de piora da ansiedade durante as sessões de Mindfulness, em especial no início do treinamento. Trata-se de uma queixa frequente entre meus pacientes com quadros ansiosos mais intensos também. Normalmente sugiro meditações guiadas por áudio ou por um instrutor para contornar essa dificuldade inicial, já que a prática individual, em silêncio, pode de fato ampliar a percepção do paciente sobre seus sintomas mais angustiantes.

Impacto Duradouro

Após 24 semanas somente 28% dos indivíduos do grupo da Meditação continuavam praticando regularmente, comparados com 52% do grupo do tratamento medicamentoso que continuavam tomando o escitalopram – ainda assim a redução dos níveis de ansiedade continuava comparável entre os dois grupos.

Temos aqui um achado muito interessante da pesquisa – a melhora na Ansiedade se manteve, mesmo entre aqueles que não continuaram a praticar a Meditação, sugerindo uma mudança duradoura decorrente de um período breve de treinamento e prática meditativa!


Conclusão

Deste estudo podemos concluir que indicar um treinamento em Meditação Mindulness (no caso a técnica específica MBSR de redução de estresse) pode ser uma intervenção terapêutica para ansiedade com benefícios similares aos da prescrição de escitalopram, mas com menos efeitos colaterais, e com o potencial de benefícios de duração prolongada mesmo nos casos em que os indivíduos não continuem praticando.




fonte:

Hoge EA et al. Mindfulness-Based Stress Reduction vs Escitalopram for the Treatment of Adults With Anxiety Disorders – A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry. 2023;80(1):13-21.

https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/2798510