Episódio de Mania e Hipomania – definição e diagnóstico – CID10

Texto completo com a definição clínica, critérios diagnósticos e diagnóstico diferencial do Episódio de Mania / Hipomania de acordo com a CID10.

Ao contrário do que ocorre no DSM-5, o quadro é classificado como uma categoria diagnóstica isolada do Transtorno Afetivo Bipolar.

O código F30 deve ser utilizado para descrever especificamente um único (ou primeiro) episódio de mania (ou maniforme), na ausência de episódios depressivos prévios.

A partir de um segundo episódio de mania / hipomania (ou ocorrendo um episódio depressivo ou misto) o diagnóstico deve ser alterado para Transtorno Bipolar (F31).

F30 – Episódio de Mania (ou Episódio Maníaco)

Três graus de gravidade são especificados aqui, compartilhando as características comuns subjacentes de humor elevado e um aumento na quantidade e na velocidade da atividade física e mental.

Todas as subdivisões desta categoria devem ser usadas somente para um episódio único de mania.

Se há episódios afetivos prévios ou subsequentes (depressivos, maníacos ou hipomaníacos), o transtorno deve ser codificado sob transtorno afetivo bipolar
(F31. -)
.
Inclui: transtorno bipolar, episódio maníaco único

F30.0 – Episódio de Hipomania

Hipomania é um grau mais leve de mania (F30.1), no qual as anormalidades do humor e do comportamento são por demais persistentes e marcantes para serem incluídas sob ciclotimia (F34.0), mas não são acompanhadas por alucinações ou delírios.

Há uma elevação leve e persistente do humor (por pelo menos vários dias continuamente), aumento de energia e atividade e usualmente sentimentos marcantes de bem-estar e de eficiência tanto física quanto mental.

Sociabilidade aumentada, loquacidade, familiaridade excessiva, aumento da energia sexual e diminuição da necessidade de sono estão frequentemente presentes, mas não numa extensão que leve a uma perturbação grave do trabalho ou resulte em rejeição social.

Irritabilidade, comportamento presunçoso e grosseiro podem tomar lugar da sociabilidade eufórica mais usual.

A concentração e a atenção podem estar comprometidas, diminuindo assim a capacidade de se fixar no trabalho, relaxamento e lazer, mas isto não evita o aparecimento de interesses em aventuras e atividades completamente novas ou gastos excessivos leves.

Diretrizes diagnósticas

Vários dos aspectos mencionados acima, consistentes com alteração ou elevação do humor e aumento de atividade, devem estar presentes por pelo menos vários dias continuadamente, em um grau e com uma persistência maior do que os descritos para a ciclotimia (F34.0).

Uma interferência considerável com o trabalho ou atividade social é consistente com o diagnóstico de hipomania, mas se a perturbação destes é grave ou completa, mania (F30.1 ou F30.2) deve ser diagnosticada.

Diagnóstico diferencial

O episódio de hipomania cobre a série de transtornos do humor e nível de atividade entre ciclotimia (F34.0) e mania (F30.1 e F30.2).

A atividade aumentada e a inquietação (e frequentemente perda de peso) do episódio de hipomania devem ser distinguidos dos mesmos sintomas ocorrendo no hipertireoidismo e anorexia nervosa; estados iniciais de “depressão agitada”, particularmente no final da meia-idade, podem ter uma semelhança superficial com episódio de hipomania da variedade irritável.

Pacientes com sintomas obsessivos graves podem estar ativos durante parte da noite para completar seus rituais de limpeza doméstica, mas seu afeto será usualmente o oposto daquele descrito aqui.

Quando um período curto de hipomania ocorre como um prelúdio ou consequência de mania (F30.1 e F30.2), usualmente não vale a pena especificar a hipomania separadamente.

F30.1 – Episódio de Mania sem sintomas psicóticos

No Episódio de Mania o humor está desproporcionalmente elevado em relação às circunstâncias do indivíduo e pode variar de uma jovialidade despreocupada a uma excitação quase incontrolável.

A elação é acompanhada por um aumento de energia, resultando em hiperatividade, pressão para falar e uma diminuição da necessidade de sono.

Inibições sociais normais são perdidas, a atenção não pode ser sustentada e frequentemente há distraibilidade marcante.

A autoestima está inflada e grandiosidade ou ideias superotimistas são livremente expressas.

Transtornos perceptivos podem ocorrer, tais como a apreciação de cores como especialmente vívidas (e usualmente bonitas), uma preocupação com detalhes finos de superfícies ou texturas e hiperacusia subjetiva.

Durante um episódio de mania o indivíduo pode se envolver em esquemas extravagantes e não práticos, gastar dinheiro irresponsavelmente ou tomar-se agressivo, amoroso ou jocoso em circunstâncias inapropriadas.

Em alguns episódios de mania o humor é irritável e desconfiado, mais do que exaltado.

O primeiro ataque ocorre mais comumente entre as idades de 15 e 30 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade, desde o final da infância até a sétima ou oitava década.

Diretrizes diagnósticas

O episódio de mania deve durar pelo menos uma semana e ser grave o suficiente para perturbar o ritmo normal de trabalho e atividades sociais, de forma mais ou menos completa.

A alteração de humor deve ser acompanhada por um aumento de energia e vários dos sintomas referidos acima (particularmente pressão para falar, diminuição da necessidade de sono, grandiosidade e otimismo excessivo).

F30.2 – Episódio de Mania com sintomas psicóticos

O quadro clínico é aquele de uma forma mais grave de mania, como descrito em F30.1.

A autoestima inflada e ideias grandiosas podem evoluir para delírios e a irritabilidade e desconfiança, para delírios de perseguição.

Em casos graves, delírios grandiosos ou religiosos de identidade ou papéis podem ser proeminentes, e fuga de ideias e pressão para falar podem tomar o indivíduo incompreensível.

A atividade física e excitação graves e continuadas podem resultar em agressão ou violência e a negligência com alimentação, ingestão de líquidos e higiene pessoal podem resultar em perigosos estados de desidratação e autonegligência.

Se necessário, delírios ou alucinações podem ser especificados como congruentes ou incongruentes com o humor.

“Incongruente” deve ser compreendido como incluindo delírios e alucinações afetivamente neutros, por exemplo, delírios de referência sem qualquer culpa ou conteúdo acusatório ou vozes falando para o indivíduo sobre eventos que não têm nenhuma significação emocional especial.

Diagnóstico diferencial

Um dos problemas mais comuns é a diferenciação de um Episódio de Mania Psicótica da esquizofrenia, particularmente se os estágios de desenvolvimento desde o episódio de hipomania não foram detectados e o paciente é visto somente no pico da doença, quando delírios difusos, discurso incompreensível e excitação violenta podem obscurecer a perturbação básica do afeto.

Pacientes em um episódio de mania, que estão respondendo à medicação neuroléptica, podem apresentar um problema diagnóstico similar, no estágio em que eles retornaram aos níveis normais de atividade física e mental, mas ainda apresentam delírios ou alucinações.

Alucinações ou delírios ocasionais como especificado para esquizofrenia (F25. —) podem também ser classificados como humor-incongruente, mas se estes sintomas são proeminentes e persistentes, o diagnóstico de transtorno esquizoafetivo (F25. —) é provavelmente o mais apropriado.
Inclui: estupor maníaco

F30.8 – Outros episódios maníacos

F30.9 – Episódio maníaco, não especificado

Inclui: mania SOE