Estágios Motivacionais de Prochaska e DiClemente (atualizado 2020)

Trata-se de um modelo transteórico utilizado em quase todas as linhas de tratamento da dependência química, e transformou-se na base do que se chama atualmente “Entrevista Motivacional”.

Neste artigo descrevemos os vários estágios motivacionais de mudança de comportamento conforme a definição de Prochaska e Diclemente, com explicações e exemplos.

Deve-se ter em mente que os estágios não representam necessariamente uma escala evolutiva! 

Na realidade ocorre uma flutuação entre os mesmos – o que explicaria a dificuldade de abordagem e estabilização da adicção / dependência química.

Isso explica em parte por que tantos dependentes químicos procuram tratamento voluntário e aos primeiros sinais de abstinência desistem do mesmo.

Num momento o indivíduo está certo que precisa mudar seu comportamento e abandonar o uso de álcool e/ou drogas.

Instantes depois passa a questionar tal necessidade de mudança, minimizando as consequências negativas de sua adicção.

Dentro da teoria motivacional evita-se o confronto direto. A conduta sugerida é “surfar na onda da resistência” ao invés de opor-se diretamente ao que o paciente diz, por mais que as crenças ou discurso do paciente pareçam irracionais ao terapeuta.

Isso porque a maior parte dos indivíduos, quando confrontado diretamente, tende a levantar defesas e fortalecer a resistência à mudança.

Pré-contemplação

1) Pré-contemplação – O indivíduo não acredita que o uso de álcool e/ou drogas seja prejudicial. Não existe a menor motivação para a mudança, seja abstinência seja redução da frequência ou intensidade do consumo. Muitas vezes existe uma idealização dos efeitos “eu fico mais criativo se fumo”, “eu consigo trabalhar a madrugada inteira com cocaína”… O profissional evita o confronto, sem faltar com sinceridade, muitas vezes flexibilizando o conceito de dependência ou motivando a busca por tratamento por motivos secundários (“mas essa tosse está ruim, não?”, “e quanto do seu salário você gasta com cocaína?”)

Contemplação

2) Contemplação – Aqui prevalece a ambivalência do indivíduo com relação ao problema. Ainda que perceba prejuízos, defende-se minimizando os mesmos, ou contrapondo benefícios advindos do uso. Nessa fase o profissional pode fazer uso das tabelas de vantagens e desvantagens do uso e da abstinência, geralmente confrontando a manutenção do uso de drogas com os planos para o futuro que o paciente eventualmente apresentar.

Planejamento ou Determinação

3) Planejamento ou Determinação – Nesse momento o adicto compreende o problema, e pede ajuda de fato. O papel do profissional é auxiliar a elaboração de estratégias de enfrentamento de realidade, identificar e trabalhar crenças negativas favorecendo o surgimento e/ou fortalecimento da autossuficiência – modificar as crenças disfuncionais como “se eu não fumar não vou conseguir trabalhar” ou “eu não consigo segurar a abstinência”. Basicamente oferecer soluções e diminuir barreiras de forma rápida, já que o retorno aos estágios anteriores é comum (especialmente quando o indivíduo usa a droga de preferência).

Ação

4)Ação – Neste momento o dependente começa a aplicar as estratégias e o planejamento elaborados na fase anterior. O profissional oferece todo o suporte necessário, buscando envolver o núcleo familiar e a rede social mais próxima (sejam amigos ou companheiros de grupos anônimos).

Manutenção

5) Manutenção – Busca-se nessa fase a estabilização da doença, tentando transformar as mudanças efetuadas na fase anterior em um novo (e mais saudável) estilo de vida. A prevenção de recaída (PPR) é uma das técnicas diretivas mais difundidas e estudadas, os grupos anônimos de mútuo-ajuda (Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos) fornecem uma rede social de suporte idealmente livre de julgamentos – o auxílio não-profissional deveria ser priorizado, exceto nos não-raros casos em que existe alguma comorbidade. A autossuficiência trabalhada nas fases anteriores não deve ser exagerada – um risco real, quando o adicto sente que controlou a situação, permitindo-se o primeiro gole ou um “único” trago…

Recaída (não é um estágio!)

Lembrando que a Recaída, ainda que não consideremos uma fase ou estágio, costuma ser regra e não exceção – estima-se que menos de 5% dos dependentes químicos que conseguem algum período de sobriedade conseguirão mantê-la sem nenhum lapso. E como com qualquer comportamento compulsivo, um único uso pode ser suficiente para levantar novamente toda uma rede de crenças negativas, fazendo o indivíduo voltar às fases iniciais de motivação.

Associam-se ao tratamento as técnicas de Prevenção a Recaída que podem ser acessadas aqui (Marlatt) e aqui (Gorski).

Fonte: Prochaska, JO; DiClemente, CC. Toward a comprehensive model of change. In: Miller, WR; Heather, N. (eds.) Treating addictive behaviors: processes of change. New York: Plenum Press; 1986. p. 3–27. ISBN 0-306-42248-4.

Como citar de acordo com as normas da ABNT

Amadera, Gustavo Daud. Estágios Motivacionais de Prochaska e Diclemente. KIAI.med.br, 2012. Disponível em: <https://kiai.med.br/estagios-motivacionais-de-prochaska-e-diclemente-1986/>. Acesso em: 19 de jul. de 2020.

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